A indústria wellness e o marketing dos suplementos

Você certamente tem um amigo que é “contra a indústria farmacêutica” e se entope de suplementos: colágeno, magnésio, ômega 3, vitaminas das mais variadas, entre muitos outros. Segundo esse seu amigo, esses suplementos agem na melhoria da pele, da dor, do bem-estar, da libido, entre outras promessas. Também tem aquele outro que começou a academia e comprou todos os pré-treinos e super coffees e wheys disponíveis, além, é claro, de creatina. Pra ele, essas pílulas mágicas vão ajudar na perda de gordura, ganho de disposição e/ou hipertrofia. E o melhor: sem colaterais!

Bom, e aí vem a minha eterna pergunta quando alguém vem com um produto milagroso: SERÁ???? Eu sempre frequentei nutricionistas (isso não quer dizer que eu fazia a dieta que eles me passavam eheh) e SEMPRE saía da consulta com zilhões de manipulados “naturebas”: já teve óleo de cártamo “pra ajudar a reduzir a gordura abdominal”; já teve uns nomes estranhos “pra diminuir a vontade de doce”; já teve zilhões para “reduzir a ansiedade”, ômega-3 “para ajudar a melhorar o perfil lipídico” e por aí vai. Resultado: nenhum.

Mas, como a minha experiência (nem a sua nem a de ninguém) não vale um ovo para a ciência, eu comecei a pesquisar esse bando de suplementos. Afinal, que lindo seria se eles cumprissem as suas promessas, a malvadona “indústria farmacêutica” já estaria falida! (Aliás, enquanto a indústria farmacêutica fatura cerca de 1,6 trilhão de dólares por ano no mundo todo, a indústria wellness fatura 6,32 trilhões. Quem diria, né?).

Começando do começo: o que são suplementos?

Suplementos alimentares nada mais são que produtos concentrados de nutrientes (como vitaminas, minerais, proteínas, aminoácidos, fibras, óleos, etc.) criados para complementar a alimentação. Em termos simples, são cápsulas, comprimidos, pós, líquidos, barrinhas com “extras” de nutrientes que você (guiado por um BOM MÉDICO OU NUTRICIONISTA), por algum motivo, não consegue ingerir o suficiente pela alimentação. Traduzindo: se você tem uma alimentação MINIMAMENTE saudável, é muito provável que você não precise suplementar nada. Isso mesmo, NADA! (Inclusive muitos suplementos em excesso podem ser danosos, como a Vitamina D. Já outros vão sair no xixi, ou seja, você vai fazer um xixi caro).

E quais são os suplementos mais utilizados e prescritos e pra que servem?

Vamos lá:

Whey: é uma proteína em pó docinha. Só isso. Uma proteína boa, magra, extraída do soro do leite, com algum saborzinho artificial pra disfarçar o gosto (que eu particularmente acho MEDONHO) original. É recomendado pra quem não consegue comer proteína suficiente na alimentação (só um nutri ou estudo pra você saber o quanto você precisa), já que você mistura na água ou leite e bebe rapidão, ou pra quem gosta de algo mais docinho, em vez de frango, por exemplo. Para a grandecíssima maioria das pessoas (mesmo quem treina) é totalmente DISPENSÁVEL.

Creatina: a creatina virou a grande promessa da humanidade, o pozinho mágico que cura e previne todas as doenças do mundo, o suplemento que aumenta a força e dá um up no cérebro. A verdade, comprovada pela ciência: creatina dá uma leve aumentadinha na força e postergada na fadiga durante o treino. Ou seja, você, que treina BRABO, que treina PESADO, até ou quase até a falha, pode conseguir fazer umas duas repetições a mais ou aumentar um pouquinho a carga. Para o cérebro, nenhum estudo até agora comprovou nada. Esta matéria do UOL explica bem bonitinho esse hype da creatina e o que é verdade e que não é.

Colágeno: não, amor, o colágeno não vai deixar a sua pele linda e jovem, infelizmente. O colágeno nada mais é que uma proteína, tipo o whey, só que, em vez de vir do soro do leite, ele vem de tecidos conectivos de animais, tipo tendões, ossos e cartilagens. É uma proteína mais barata e de pior qualidade que o whey. E, embora o colágeno seja importantíssimo para a nossa pele, quando a gente ingere ele, ele se quebra em aminoácidos, que vão pra onde tem que ir, como qualquer outra proteína; não tem um GPS que o direcione exatamente para a pele. Aqui um videozinho bem legal da Mari Kruger sobre o tema.

Ômega-3: outro suplemento cheio de promessas. No entanto, evidências robustas sugerem boa indicação para pessoas com triglicerídeos altos (já que o ômega-3 pode reduzir até 30% desse valor) e gestantes (a ingestão de ômega-3 está ligada à diminuição de riscos tanto para a mãe quanto para o bebê).

Cafeína: esse aqui é meu favorito. Afinal, quem não gosta de um cafezinho, não é mesmo? A cafeína é um ótimo pré-treino e também útil para aqueles dias em que estamos mais cansados. Mas é claro que a dose faz o veneno. Até 400mg de café coado, ou 4 xícaras médias, para a maioria das pessoas, é o limite. Duas cápsulas de 100mg (sim, tem gente que não gosta de café e toma em cápsula) também é considerada uma dose máxima. Algumas outras substâncias presentes em super-coffees ou pré-treinos por aí não têm evidência para diminuir fadiga nem aumentar energia. Outras não estão presentes em quantidade suficiente para cumprir suas funções e é melhor tomar separado (creatina, beta-alanina, etc.). Portanto, dinheiro jogado fora. Um cafezinho preto é mais barato, gostoso e funcional.

Neste post, a grande nutri Deborah Moss fala mais sobre suplementos que funcionam, embora não sejam indicados para todo mundo (muito antes pelo contrário).

Eu poderia falar mais profundamente sobre tantos outros suplementos que tanta gente usa jurando que vai alcançar algum resultado, como biotina, coenzima Q10, maca peruana, etc., etc., etc.

Mas fico por aqui.

O golpe tá aí. Cai quem quer.

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